sábado, 3 de julho de 2010

Prefeitura do Rio para de tratar o esgoto das favelas

SERVIÇO FOI INTERROMPIDO EM ABRIL DE 2009 SOB O ARGUMENTO DE QUE AS COMUNIDADES NÃO ARRECADAM IMPOSTOS. UMA PERGUNTA AO SR. EDUARDO PAES: E OS VOTOS DO FAVELADOS, SERVIU PARA ELEGÊ-LO SR. PREFEITO?

Rio - Como se não bastasse o cotidiano de luta contra a violência e a miséria, as favelas do Rio estão sendo vítimas agora da suspensão do tratamento de esgoto sanitário. A prefeitura parou de realizar o serviço em abril do ano passado sob o argumento de que as comunidades não arrecadam impostos e, portanto, não geram recursos para custear a limpeza e manutenção das redes. O abandono atinge mais de um milhão de pessoas — e quase 30% delas são crianças.



Um convênio assinado entre o Município e o governo do estado, por meio da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), em fevereiro de 2007, repassou para a Secretaria Municipal de Habitação (SMH) a responsabilidade do sistema de esgotamento nas áreas de favelas. A prefeitura tem que limpar galerias, cuidar da manutenção em locais já saneados e promover obras necessárias nas comunidades mais precárias.

“A prefeitura quer repassar ao governo estadual a responsabilidade por este serviço. Mas enquanto a intenção não se concretizar, o Município tem a obrigação de fazer a manutenção das redes de esgoto”, afirmou a vereadora Teresa Bergher (PSDB), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal.

Em audiência pública semana passada, na Câmara, o coordenador de obras da SMH, Romério Souza, explicou o o abandono: “A Cedae tem que retomar esta responsabilidade porque a prefeitura não arrecada impostos destas comunidades para custear os serviços”. Questionada sobre a possibilidade de retomar o saneamento das favelas, a Cedae informou que isso está fora de cogitação.

Enquanto o problema se arrasta, quem sofre são os moradores. Na localidade de Cambuci, na Cidade Alta, onde moram quatro mil pessoas, o mau cheiro e a água podre infestam as ruas. “Há 4 anos, faço tratamento de hepatite. Meu médico disse que a contaminação deve ter acontecido pelo fato de eu diariamente enfiar a mão no esgoto para desentupi-lo”, disse o aposentado José Pereira, 47. Mesma situação vive o serralheiro Claudenilson Gonçalves, 44, morador de Santa Edwiges, em Brás de Pina: “Ninguém quer consertar e a gente vive assim: largado. As crianças brincam na sujeira e parecem já acostumadas com isso”.

Mortalidade infantil é 28 vezes maior

Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas revelou que a mortalidade entre crianças de 1 a 6 anos é até 28 vezes maior onde não há rede coletora. Falta de coleta e tratamento sanitário aumentam ainda em 30% as chances de grávidas terem filhos mortos.

Na favela de Cambuci, Cidade Alta, os pequenos aproveitam poças de esgoto para brincar. Dos 4 mil moradores, ao menos mil são crianças e adolescentes que convivem com mau cheiro, ratos e insetos. “Dá pena ver a garotada acostumada com sujeira”, lamenta a presidente da associação de moradores de Cambuci, Cida Neves, 48 anos.

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